quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Opinião de Vasco Pulido Valente

A Confusão por VPV


Mais uma Opinião maldizente e acertada de Vasco Pulido Valente (VPV) no Público de 18.12.2011.

Uma das frase de VPV, que espelha o nos está a acontecer: “ Toda a gente procura ansiosamente perceber (e não consegue) o esotérico palavreado dos peritos, que em seis meses se multiplicaram por toda a parte, cada um com a sua sabedoria e a sua receita”.

Sem dúvida que não temos a mínima ideia do que nos vai acontecer e já a partir de 2 de Janeiro, próximo. Tudo parece possível vir a acontecer: A CP não pagar salários, a TAP não pagar subsídios de férias e natal, os privados deixarem de pagar os salários na totalidade aos seus trabalhadores, o Estado não ter dinheiro para pagar reformas e pensões, o desemprego disparar desatinadamente, os transportares públicos irem parando, as crianças quase deixarem de nascer, cá.

Isto deve-se aos palpites de todos os “entendidos” neste nosso País. E a dada altura fica-se com a impressão – para não dizer a certeza – que cada um em aflição, está unicamente a defender, a zelar, pelo seu lugar – para que não perder o seu emprego, o seu posto, os outros, logo se verá, ou nem por isso. Ele são os economistas que fazem imensos estudos, e previsões, sem quaisquer certeza – evidentemente - que se contradizem, mas vão mostrando cada vez mais desses estudos, uma vez que não vão dando certo , fazem -se outros, a ver, se é desta. E todos neste país, já sabemos tanto “termos” de economia e finanças.

Os autarcas que se acham todos insubstituíveis e infundíveis, que dizem o que os próprios querem ouvir. E, seguem-se todos os que pensem que o seu posto de trabalho – essencialmente se publico – possa vir a ser extinto - , a troika manda - , e assim passam a “sua sabedoria, a sua receita” e ninguém os entende, porventura nem eles próprios.

A outra frase de relevo de VPV, é: “ No meio disto, com tranquilidade e doçura, Passos Coelho aumenta dia a dia a confusão, como se qualquer um de nós aí pela rua soubesse perfeitamente o que se passa e fosse capaz de medir as consequências de cada nova trapalhada”. Sem dúvida que Passos Coelho, será, ou quererá passar a imagem de simpático, mas a única que é perceptível é que cumpre as ordens ao milímetro da Sra. Merkel, mas com um problema, ela explica-lhe o que ele nos tem que fazer, e ele não nos quer ou não sabe explicar.

Como ninguém nos quer explicar, ou não sabe, detalhadamente a situação em que estamos – sem culpas e culpados, ou se sim, e prendam-nos, a todos – e o caminho que temos a seguir, vamos ouvindo aqui e além, essencialmente à entrada ou a saída de eventos em que participam – PM, Ministros e até PR - e nunca em locais e momentos adequados, umas frases soltas, descontextualizados, com avisos e recados. Todos o fazem e é muito mau.

E outros pensam que fazem-nos acreditar que tudo vai funcionando e nós vamos entendendo o contrário. Em tudo!

Esta falta ou total incapacidade, por parte essencialmente do Governo – a oposição é má, má! Só! - , faz-nos aumentar as duvidas que já temos e mais umas quantas, como: vão acabar afinal todas as reformas e pensões, e o SNS, o desemprego vai disparar sem controlo, a desordem vai cair nas ruas, os assaltos, os roubos, o euro vai-nos pôr fora? Ou seja, será que dentro de um ano, em Dezembro de 2012, ainda existiremos como País, como Europa? Com dinheiro para comprar pão?

Se já ninguém tem saudades de José Sócrates - os que dizem ter, será da boca para fora, e são poucos! - e esperava-se que estivesse mais caladinho do que está, falou sempre muito! – mas Passos Coelho arrisca-se a seguir a mesma “via” não por falar sempre, sempre, mas essencialmente por falar de mais quando o não deve fazer, e de menos quando o tem que fazer. E ninguém entende, nada, nada, nada. E a comunicação social ajuda a confundir!

Ajudem-nos e não aumentar a Confusão, mereçam os Vossos cargos, falem pouco mas bem, digam, expliquem, mesmo que seja desagradável o que nos têm a dizer. Não somos burros entendemos se nos explicarem.


Augusto Küttner de Magalhães

Dezembro de 2012.

domingo, 18 de dezembro de 2011

EDP / Fundação - Porto - Expo - Diário - 17.12.2011



Na Fundação EDP - Porto, pudemos assistir à inauguração em 17 de Dezembro, de uma muito interessante exposição, que nos mostra o nosso País em fotografias, pelas fotografias. Fotografias com Pessoas, junto a outras Pessoas, junto a objectos, junto a prédios, casas, vidas!

Uma forma excelente de vermos fotograficamente o nosso País, sem nacionalismo, mas com realismo, sem fado, mas com oportunidade, com imagens recolhidas por quem o sabe fazer, durante o ano de 2010 - Centenário da Republica - por um grupo de fotógrafos reunidos no colectivo Kameraphoto.

E lendo o prospecto muito bem elaborado para o efeito por João Pinharanda , são oportunas estas passagens:

" ...foram 365 dias a olhar de um modo especial para o corpo múltiplo da realidade em movimento que é um país. Com esse trabalho o colectivo elaborou um DIÁRIO. A obra possui a dimensão da intimidade e de reflexão, de segredo e de indignação, de poesia e de tristeza, de propostas e sonhos de todos os diários". " A fotografia cumpre assim o seu papel de documentar r mas também de comentar, intervir , desmultiplicando os caminhos propostos, mas também de libertar, abrindo o espírito ao futuro." " Percorremos esta exposição com a liberdade de não cumprirmos a cronologia de registo das imagens: percebemos que há linhas condutoras e saltos de humor, detemo-nos com episódios soltos ou seguimos pequenas narrativas, uma imagem choca-nos, noutra reconhecemos um rosto, rimo-nos de uma pose, admiramos uma paisagem. No final temos o puzzle de um país que, como um corpo, se encontra sempre incompleto...".

Até ao dia 4 de Março de 2012 é-nos possível visitar e revisitar estas fotografias, que projectam-nos e ao país, que nos fazem vermo-nos como de facto somos.

Augusto Küttner de Magalhães

18.12.2011

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

O Douro, e o Património Mundial....e!



O Alto Douro Vinhateiro foi classificado pela UNESCO como Património Mundial da Humanidade, e é muito merecido. Sem sombra de duvidas. E tal implica que a beleza da Região, os produtos da Região: Vinho do Porto, Vinho de mesa, Azeite e Turismo sejam a definição da região. E têm sido. E faz parte de todos nós, essencialmente portugueses, em vez de estarmos em permanente auto -vitimização, agarrarmos nesta Região e tê-la como nossa e em simultâneo fazê-la conhecida por esse mundo fora. Já é, os EUA tem imensos dos seus cidadãos a vir cá todos os anos, só pelo nosso Douro.

E se estes títulos, são sempre vantajosos, não são tudo. Nós temos que ajudar a dizer bem, a fazer bem. e não podemos sempre que aparece uma notícia que faz muitas notícias, que hoje dá demasiado espaço e que amanha será substituída por outra e outra, faça com que algo muito nosso, que deve de todos ser conhecido, ficar-se por negativas opiniões, noticias.

Tanto podemos achar que a vantagem de passar a Região Classificada, seja importante , e possa ser desmontada de um momento para o outro, com motivos válidos ou com motivos de oportunidade.

Posto isto, vale ainda hoje ir - até por um só dia - até ao Douro, e fica-nos em conta se não tivermos que usar as vias que nos possam ser menos adaptadas ao nosso rendimento. E dar uma volta entre o Porto e a Régua - Peso da Régua - , andar a pé, aproveitando para fazer um almoço muito bom, muito em conta, muito simpático num restaurante muito barato, e continuando a andar a pé, verificando que as obras de requalificação da via junto ao Douro, estão quase acabadas, que temos o Douro - rio, agua, ali ao lado, e agora neste inicio de Dezembro de 2011, as uvas não estão lá, as vinhas estão quase sem folhas, mas estão lá, e o aspecto é muito invulgar.

Podemos, agora já de carro, seguir até ao Pinhão e sentimo-nos entre o Rio Douro, e aquelas lindas vinhas, aquelas casas antigas, as pontes antigas, e depois apesar de as noites apareceram depressa ir até Vila Real, a estrada antiga, não é das mais fáceis, mas fez-se bem. Chegados a Vila Real parar o carro, num local gratuito e andar a pé, ver a pé, - até têm umas árvores iluminadas de Natal , com parcimónia, estamos em crise - estar lá. Depois como já caiu a noite regressar ao Porto por uma via mais rápida, e claro que ficou , ainda, hoje , muito por ver do Alto Douro.

Mas se houver vontade de todos, em nos focarmos em todo o Douro, em pensarmos no Douro da foz até a Miranda do Douro, não teremos - todos, todos, tantos - que perder tempo com o Tua e sua barragem. Se perdermos , se acharmos que o importante é ficarmos todos focados na noticia de ter barragem no Tua, tirar barragem do Tua, cai Património, fica Património, estamos uma vez mais a bater na nossa cabeça, com noticias que podem ou não ter conteúdo, mas que fazem -nos, parece ficar tão contentes, por haver a suspeita de que fizemos mal e que podemos ficar com a Unesco contra nós.

Claro que devemos ter a Unesco connosco, claro que devemos defender o nosso Património, começando pela Ponte D. Maria - aqui no Porto - , que vai cair de podre por ninguém lhe dar atenção e vamos subindo pelo Douro e vendo aquela beleza, e vamos dizendo bem e não só apontado o mal. Para dizer mal de nós já chega toda a malta "lá de fora" que o faz, para não se ver ao espelho...aproveitemos o que temos e digamos bem do que é nosso, sem nacionalismos, mas com verdades...

Augusto Küttner de Magalhães

08.12.2011


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Augusto Küttner de Magalhães

sábado, 19 de novembro de 2011

Em vez de Greves, exija-se uma União Europeia!



Nas alturas de grandes tensões ou de grandes desconfortos, os sindicatos para não perderem o pé convocam Greves, e todos os que se aproximam destas ideias, aderem às Greves. E se em dados momentos, que já terão duas décadas e mais, algumas -, nem todas, - as Greves, deram benefícios a quem as fez, hoje, não dão. Não tenhamos quaisquer dúvidas.

Como é uso dizer-se “não há dinheiro para mandar tocar um cego”, logo, por muita Greve que se faça, por muitas televisões a darem telejornais de hora e meia a duas horas sobre a Greve, a entrevistar todos e mais alguns e todos a dizerem o que é verdadeiro, que a vida está a ficar insuportável, não é pela Greve – hoje – que vai ficar suportável. Não tenhamos quaisquer dúvidas.

E com entusiasmo – espantemo-nos ou não! - , vamos vendo o filme da Grécia a repetir-se cá, e claro com os ânimos exaltados, vamos começar a assistir a distúrbios nas principais cidades deste País, e ninguém ficará por certo admirado. Concerteza o País – nosso e não do Governo, deste ou de qualquer outro – ficará ainda mais pobre.

O problema nunca se irá resolver com Greves, e as greves dos transportes públicos têm a vantagem de fazer outorgar outros a aderir a greves – os que dos transportes públicos dependem para se deslocar por não terem transporte próprio/individual.

E depois de feitas as greves, os grevistas ficam sempre felizes com a imensa adesão e os empregadores “arranjam” sempre um raio de uns números, em que quase ninguém aderiu. E as televisões, têm telejornais, em cheio. E no da seguinte, estamos todos mais pobres. Excepto os muito ricos, mas esses não somos nós.

Sendo a greve um direito, não é uma obrigação. Sendo a greve um direito, existem alternativas antes de a fazer. E hoje não havendo como ir por essas outras alternativas, por certo não será fazendo greves que os salários irão aumentar, que as pensões de miséria deixarão de o ser, que não nos irão “tirar” o 13º e o 14º subsídio, que se irão criar mais empregos.Claro que o que temos, está mal. Melhor, estás muito mal.

Mas, já vem de trás – e não só do Governo anterior…- e vai agravar-se se não houver vontade de querer ver e resolver o problema de frente. Ou temos uma verdadeira União Europeia, ou vamos todos sucumbir de vez, logo temos que exigir uma verdadeira União, e já! E se o conseguirmos, não serão necessárias Greves, o resto virá por acréscimo, o inverso é que já não será verdade!

Num mundo globalizado, que está a ser dirigido pelo Dinheiro e pelos interesses Económicos de alguns, não interessa, estar-se a pensar que por métodos ultrapassados se resolvem problemas que tinham - teriam ! - solução noutros tempos, mas hoje não terão. E se muitos dizem que os ricos um dia terão que ceder se não, não terão onde viver, desenganem-se que ainda há por aí muitas ditaduras que os recebem de braços abertos. Claro que é melhor estar aqui a Ocidente, mas o aqui Ocidente, pelo caminho que segue, entra – todo - em ditaduras, quer nos EUA quando Obama cair – com uns candidatos Republicanos, muito piores que o Bush filho - , quer aqui na Europa, com nacionalismos, com regressos gloriosos ao passado.

Ainda para mais, onde tantos nunca souberam - e nem querem saber - que a Europa tem tido muitas guerras, e que há pouco mais de 60 anos teve uma que tudo destruiu, e facilmente, hoje terá outra, e com ditaduras, é atear a gasolina espalhada, com um fósforo – ainda existem….fósforos e que livremente e com gozo, assim os queira utilizar.

As manifestações, em vez de Greves que tudo paralisam sem resultados, hoje - , deveriam ser junto a tudo que possam ser instituições a nível europeu que possam ter influência na Governação Europeia, como protesto por essa Governação ser uma palhaçada autêntica, de haver “tantas” instituições europeias, essencialmente em Bruxelas , que não têm qualquer poder, e que devem tê-lo. E que não pode ser a senhora da Alemanha, a mandar, o francês, é um pau mandado. E a crise, está a chegar a países que andavam escondidos a ver se não eram atingidos e já lá está: Áustria, Bélgica, e mais virão, e não são periféricos, não são os atrasados do Sul…..Não somos nós periféricos, é uma Europa desavinda! Em Crise.

Logo, haja empenho em exigir uma Europa Unida e Democrática sem ir para Greves que mais empobrecem, que tudo podem partir - ainda mais - , e chamar ditaduras, e guerras, e aí estamos “desfeitos” por muitas décadas…


Augusto Küttner de Magalhães

Novembro de 2011

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

.Porque silenciam a ISLÂNDIA?.

Troika, ministros, presidentes, economistas,
jornalistas,
chanceleres, membros da
nato e da CE, comentadores, politólogos, génios das soluções já inventadas -
mas e o exemplo da Islândia ninguém pega nele?

Qual a razão?


Porque silenciam a ISLÂNDIA?


(Estamos neste estado lamentável por causa da
corrupção interna -pública e
privada com incidência no sector bancário - e pelos juros usurários que a Banca
Europeia nos cobra. Por isso, acho que era altura de falar na Islândia, na
forma como este país deu a volta à bancarrota, e porque não interessa a certa
gente

que se fale dele. Não é impunemente que não se fala da Islândia (o primeiro
país a ir à bancarrota com a crise financeira) e na forma como este pequeno
país

perdido no meio do mar, deu a volta à crise.

Ao poder económico mundial, e especialmente o Europeu, tão proteccionista do
sector bancário, não interessa dar notícias de quem lhes bateu o pé e não
alinhou nas imposições usurárias que o FMI lhe impôs para a ajudar.

Em **2007 a** Islândia entrou na bancarrota por causa do seu endividamento
excessivo e pela falência do seu maior Banco que, como todos os outros, se
afogou num oceano de crédito mal parado. Exactamente os mesmo motivos que
tombaram com a Grécia, a Irlanda e Portugal.

A Islândia é uma ilha isolada com cerca de 320 mil habitantes, e que durante
muitos anos viveu acima das suas possibilidades graças a estas
"macaquices" bancárias, e que a guindaram falaciosamente ao 13º no

ranking dos países com melhor nível de vida (numa altura em que Portugal
detinha o 40º lugar).

País novo, ainda não integrado na UE, independente desde 1944, foi desde então
governado pelo Partido Progressista (PP), que se perpetuou no Poder até levar o
país à miséria.

Aflito pelas consequências da corrupção com que durante muitos anos conviveu, o
PP tratou de correr ao FMI em busca de ajuda. Claro que a usura deste organismo
não teve comiseração, e a tal "ajuda" ir-se-ia

traduzir em empréstimos a juros elevadíssimos (começariam nos 5,5% e daí para
cima), que, feitas as contas por alto, se traduziam num empenhamento das
famílias islandesas por 30 anos, durante os quais teriam de pagar uma média de
350 Euros / mês ao FMI. Parte desta ajuda seria para "tapar" o buraco
do principal Banco islandês.

Perante tal situação, o país mexeu-se, apareceram movimentos cívicos despojados
dos velhos políticos corruptos, com uma ideia base muito simples: os custos das
falências bancárias não poderiam ser pagos pelos cidadãos, mas sim pelos
accionistas dos Bancos e seus credores.

E todos aqueles que assumiram investimentos financeiros de risco, deviam agora
aguentar com os seus próprios prejuízos.

O descontentamento foi tal que o Governo foi obrigado a efectuar um referendo,
tendo os islandeses, com uma maioria de 93%, recusado a assumir os custos da má
gestão bancária e a pactuar com as imposições

avaras do FMI.

Num instante, os movimentos cívicos forçaram a queda do Governo e a realização
de novas eleições.

Foi assim que em 25 de Abril (esta data tem mística) de 2009, a Islândia foi a
eleições e recusou votar em partidos que albergassem a velha, caduca e corrupta
classe política que os tinha levado àquele estado de penúria. Um partido
renovado (Aliança Social Democrata) ganhou as eleições, e conjuntamente com o
Movimento Verde de Esquerda, formaram uma coligação que lhes garantiu 34 dos 63
deputados da Assembleia).

O partido do poder (PP) perdeu em toda a linha.

Daqui saiu um Governo totalmente renovado, com um programa muito objectivo:
aprovar uma nova Constituição, acabar com a economia especulativa

em favor de outra produtiva e exportadora, e tratar de

ingressar na UE e no Euro logo que o país estivesse em condições de o fazer,
pois numa fase daquelas, ter moeda própria (coroa islandesa) e ter o

poder de a desvalorizar para implementar as exportações, era fundamental.

Foi assim que se iniciaram as reformas de fundo no país, com o inevitável
aumento de impostos, amparado por uma reforma fiscal severa. Os cortes na
despesa foram inevitáveis, mas houve o cuidado de não "estragar" os
serviços públicos tendo-se o cuidado de separar o

que o era de facto, de outro tipo de serviços que haviam sido criados ao longo
dos anos apenas para serem amamentados pelo Estado.

As negociações com o FMI foram duras, mas os islandeses não cederam, e
conseguiram os tais empréstimos de que necessitavam a um juro máximo de 3,3% a
pagar nos tais 30 anos. O FMI não tugiu nem mugiu. Sabia que teria de ser
assim, ou então a Islândia seguiria sozinha e, atendendo às suas
características, poderia transformar-se num exemplo mundial de como sair da
crise sem estender a mão à Banca internacional. Um exemplo perigoso demais.

Graças a esta política de não pactuar com os interesses descabidos do
neo-liberalismo instalado na Banca, e de não pactuar com o formato do actual
capitalismo (estado de selvajaria pura) a Islândia conseguiu, aliada a uma
política interna onde os islandeses faziam sacrifícios,

mas sabiam porque os faziam e onde ia parar o dinheiro dos seus sacrifícios,
sair da recessão já no 3º Trimestre de 2010.

O Governo islandês (comandado por uma senhora de 66 anos) prossegue a sua
caminhada, tendo conseguido sair da bancarrota e preparando-se para dias
melhores. Os cidadãos estão com o Governo porque este não lhes mentiu, cumpriu
com o que o referendo dos 93% lhe tinha ordenado, e os islandeses hoje sabem
que não estão a sustentar os corruptos banqueiros do seu país nem

a cobrir as fraudes com que durante anos acumularam fortunas monstruosas.

Sabem também que deram uma lição à máfia bancária europeia e mundial,
pagando-lhes o juro justo pelo que pediram, e não alinhando em especulações..
Sabem ainda que o Governo está a trabalhar para eles, cidadãos, e aquilo que é
sector público necessário à manutenção de uma assistência e segurança social
básica, não foi tocado.

Os islandeses sabem para onde vai cada cêntimo dos seus impostos. Não tardarão
meia dúzia de anos, que a Islândia retome o seu lugar nos países mais
desenvolvidos do mundo.

O actual Governo Islandês, não faz jogadas nas costas dos seus cidadãos. Está a
cumprir, de A a Z, com as promessas que fez.

Se isto servir para esclarecer uma única pessoa que seja deste pobre país aqui
plantado no fundo da Europa, que por cá anda sem eira nem beira ao sabor dos
acordos milionários que os seus governantes acertam

com o capital internacional, e onde os seus cidadãos passam fome para que as
contas dos corruptos se encham até abarrotar, já posso dar por bem empregue o
tempo que levei a escrever este artigo.
Apetece gritar ...

A C O R D A I !!!
O inferno continua...
a gadanha ameaça o povo
e o cheiro a enxofre perdura no ar !

domingo, 13 de novembro de 2011


Quando a China mandar na Europa


Face à total falta de vontade que a Europa vai demonstrando em se verdadeiramente unir, para se defender, para se interligar, a única alternativa “encontrada por esta Europa desorientada” é pedir ajuda, agora, “fora da Europa”!

Já não são os países em aflição a pedir dentro da Europa aos seus poderosos – Alemanha, Áustria, Holanda, Finlândia, - mas são estes a proclamar que não ajudam quem não merece, pelo que, a ajuda em vez da União, tem que vir de fora da China, do Brasil, até da Rússia.

Claro que, quem está em melhores condições para ajudar uma Europa em desespero é quem tem mais dinheiro disponível, ou seja a China.

Mas ninguém, mesmo ninguém estará à espera que a China, que quer ultrapassar os EUA em 2020, passando a maior potência económica e militar / mundial, vai ajudar a Europa, sem querer com “isso” ter muitos proveitos.

A China, hoje, já é detentora de 60% da divida dos EUA, e vai passar a ser a dona de boa parte da Europa dado que esta não quer fazer um bloco unido, uma verdadeira União Europeia. A Europa, sempre se foi retalhada, e quando parecia ter mudado de rumo, voltou aos nacionalismos separatistas, exacerbados e estúpidos.

E, assim, vamos começar a ver os chineses a despejar cá para dentro dinheiro, e atrás disso virão todos os artigos produzidos na China, todas as ordens imanadas da China, a bandeira da U.E passará ta ter o fundo vermelho, e a Alemanha a Áustria, a Holanda e Finlândia, terão como primeira língua: o chinês. Os mais atrasados, já nem língua terão….

Em vez de termos um mundo global com parecerias igualitárias entre Europa, EUA, China, Índia, Brasil, Japão e Rússia, vamos pôr-nos a jeito para a China tudo dominar, por total incompetência, incapacidade e estupidez europeia. Sem dúvida que o mundo de hoje, não tem líderes, tem pequenos e maus chefes, e o único que seria capaz, Obama, está amarrado a uns republicanos, ultraconservadores, que só querem poder, pelo poder.

E quando a China se instalar em força aqui na Europa, teremos obrigatoriamente que obedecer. Viva a China, por ser hoje capaz de sozinha fazer o que todo o Ocidente se incapacitou de fazer.


Augusto Küttner de Magalhães

Novembro de 2011

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

À ATENÇÃO DA "DUPLA" MERKEL/SARKOZY:


Troca de cartas publicadas na revista Stern.

Há algum tempo, foi publicada na revista Stern, uma “carta aberta” de
um cidadão alemão, Walter Wuelleenweber, dirigida a “caros gregos”,
com os seguintes título e sub-título:

Depois da Alemanha ter tido de salvar os bancos,
agora tem de salvar também a Grécia!

Os gregos, que primeiros fizeram alquimias com o euro,
agora, em vez de fazerem economias, fazem greves

Caros gregos,
Desde 1981 pertencemos à mesma família.
Nós, os alemães, contribuímos como ninguém mais para um Fundo comum,
com mais de 200 mil milhões de euros, enquanto a Grécia recebeu cerca
de 100 mil milhões dessa verba, ou seja a maior parcela per capita de
qualquer outro povo da U.E.
Nunca nenhum povo até agora ajudou tanto outro povo e durante tanto tempo.
Vocês são, sinceramente, os amigos mais caros que nós temos.
O caso é que não só se enganam a vocês mesmos, como nos enganam a nós.
No essencial, vocês nunca mostraram ser merecedores do nosso Euro.
Desde a sua incorporação como moeda da Grécia, nunca conseguiram, até
agora, cumprir os critérios de estabilidade. Dentro da U.E., são o
povo que mais gasta em bens de consumo
Vocês descobriram a democracia, por isso devem saber que se governa
através da vontade do povo, que é, no fundo, quem tem a
responsabilidade. Não digam, por isso, que só os políticos têm a
responsabilidade do desastre. Ninguém vos obrigou a durante anos fugir
aos impostos, a opor-se a qualquer política coerente para reduzir os
gastos públicos e ninguém vos obrigou a eleger os governantes que têm
tido e têm.
Os gregos são quem nos mostrou o caminho da Democracia, da Filosofia e
dos primeiros conhecimentos da Economia Nacional.
Mas, agora, mostram-nos um caminho errado. E chegaram onde chegaram,
não vão mais adiante!!!

Na semana seguinte, a Stern publicou uma carta aberta de um grego,
dirigida a Wuelleenweber:

Caro Walter,
Chamo-me Georgios Psomás. Sou funcionário público e não “empregado
público” como, depreciativamente, como insulto, se referem a nós os
meus compatriotas e os teus compatriotas.
O meu salário é de 1.000 euros. Por mês, hem!... não vás pensar que
por dia, como te querem fazer crer no teu País. Repara que ganho um
número que nem sequer é inferior em 1.000 euros ao teu, que é de
vários milhares.
Desde 1981, tens razão, estamos na mesma família. Só que nós vos
concedemos, em exclusividade, um montão de privilégios, como serem os
principais fornecedores do povo grego de tecnologia, armas,
infraestruturas (duas autoestradas e dois aeroportos internacionais),
telecomunicações, produtos de consumo, automóveis, etc.. Se me esqueço
de alguma coisa, desculpa. Chamo-te a atenção para o facto de sermos,
dentro da U.E., os maiores importadores de produtos de consumo que são
fabricados nas fábricas alemãs.
A verdade é que não responsabilizamos apenas os nossos políticos pelo
desastre da Grécia. Para ele contribuíram muito algumas grandes
empresas alemãs, as que pagaram enormes “comissões” aos nossos
políticos para terem contratos, para nos venderem de tudo, e uns
quantos submarinos fora de uso, que postos no mar, continuam tombados
de costas para o ar.
Sei que ainda não dás crédito ao que te escrevo. Tem paciência,
espera, lê toda a carta, e se não conseguir convencer-te, autorizo-te
a que me expulses da Eurozona, esse lugar de VERDADE, de PROSPERIDADE,
da JUSTIÇA e do CORRECTO.
Estimado Walter,
Passou mais de meio século desde que a 2ª Guerra Mundial terminou.
QUER DIZER MAIS DE 50 ANOS desde a época em que a Alemanha deveria ter
saldado as suas obrigações para com a Grécia.
Estas dívidas, QUE SÓ A ALEMANHA até agora resiste a saldar com a
Grécia (Bulgária e Roménia cumpriram, ao pagar as indemnizações
estipuladas), e que consistem em:
1. Uma dívida de 80 milhões de marcos alemães por indemnizações, que
ficou por pagar da 1ª Guerra Mundial;
2. Dívidas por diferenças de clearing, no período entre-guerras, que
ascendem hoje a 593.873.000 dólares EUA.
3. Os empréstimos em obrigações que contraíu o III Reich em nome da
Grécia, na ocupação alemã, que ascendem a 3,5 mil milhões de dólares
durante todo o período de ocupação.
4. As reparações que deve a Alemanha à Grécia, pelas confiscações,
perseguições, execuções e destruições de povoados inteiros, estradas,
pontes, linhas férreas, portos, produto do III Reich, e que, segundo o
determinado pelos tribunais aliados, ascende a 7,1 mil milhões de
dólares, dos quais a Grécia não viu sequer uma nota.
5. As imensuráveis reparações da Alemanha pela morte de 1.125.960
gregos (38,960 executados, 12 mil mortos como dano colateral, 70 mil
mortos em combate, 105 mil mortos em campos de concentração na
Alemanha, 600 mil mortos de fome, etc., et.).
6. A tremenda e imensurável ofensa moral provocada ao povo grego e aos
ideais humanísticos da cultura grega.
Amigo Walter, sei que não te deve agradar nada o que escrevo. Lamento-o.
Mas mais me magoa o que a Alemanha quer fazer comigo e com os meus compatriotas.
Amigo Walter: na Grécia laboram 130 empresas alemãs, entre as quais se
incluem todos os colossos da indústria do teu País, as que têm lucros
anuais de 6,5 mil milhões de euros. Muito em breve, se as coisas
continuarem assim, não poderei comprar mais produtos alemães porque
cada vez tenho menos dinheiro. Eu e os meus compatriotas crescemos
sempre com privações, vamos aguentar, não tenhas problema. Podemos
viver sem BMW, sem Mercedes, sem Opel, sem Skoda. Deixaremos de
comprar produtos do Lidl, do Praktiker, da IKEA.
Mas vocês, Walter, como se vão arranjar com os desempregados que esta
situação criará, que por ai os vai obrigar a baixar o seu nível de
vida, Perder os seus carros de luxo, as suas férias no estrangeiro, as
suas excursões sexuais à Tailândia?
Vocês (alemães, suecos, holandeses, e restantes “compatriotas” da
Eurozona) pretendem que saíamos da Europa, da Eurozona e não sei mais
de onde.
Creio firmemente que devemos fazê-lo, para nos salvarmos de uma União
que é um bando de especuladores financeiros, uma equipa em que jogamos
se consumirmos os produtos que vocês oferecem: empréstimos, bens
industriais, bens de consumo, obras faraónicas, etc.
E, finalmente, Walter, devemos “acertar” um outro ponto importante, já
que vocês também disso são devedores da Grécia:
EXIGIMOS QUE NOS DEVOLVAM A CIVILIZAÇÃO QUE NOS ROUBARAM!!!
Queremos de volta à Grécia as imortais obras dos nosos antepassados,
que estão guardadas nos museus de Berlim, de Munique, de Paris, de
Roma e de Londres.
E EXIJO QUE SEJA AGORA!! Já que posso morrer de fome, quero morrer ao
lado das obras dos meus antepassados.
Cordialmente,
Georgios Psomás

Apetece dizer:
toma e vai-te curar!
(in Anónimo Sec XXI)

sábado, 5 de novembro de 2011

Há mais vida para além de…

A célebre e oportuna frase do anterior PR, Jorge Sampaio: “ Há vida para além do orçamento”, foi agora replicada pelo” ainda” Ministro da Economia, O Álvaro, com uma tonalidade diferente: “Há mais vida para além da austeridade”.

Se, Álvaro Santos Pereira, foi - e ainda será - um excelente estudioso, que muitos bons livros escreveu sobre a nossa Economia enquanto professor universitário no Canadá, agora, tem tido umas saídas bombásticas, como a de sugerir - quando falou ao povo pela primeira vez, como Ministro - que o tratem por Álvaro, e não por Senhor Ministro. E mesmo trabalhando muito, não temos entendido – talvez defeito nosso – nada do que tem feito a bem da nossa Economia. Parece um imenso Ministro, com um tremendo Ministério, por certo melhor organizado que muito outros, mas que não parece – erro nosso!? – estar a fazer o que esperávamos fizesse. E frases bombásticas, já soam mal, como a da senhora Ministra deste Governo - também quando falou ao povo pela primeira vez como Ministra - que decretou que os homens não podem usar gravata para evitar ligar o ar condicionado, e como será agora, que vem aí o Inverno?.

Bem, mas por certo de ambos ainda veremos muita “obra” na Economia, nas Pescas, na Agricultura, no nosso País, uma vez que, é para “isso” que lá estão.

E, voltando ao “Há mais vida para além de…”, sem duvida que há. Mas, sem duvida que nós, todos, estamos demasiado focados em algum aspecto concreto da nossa existência, que nos ocupa de tal forma o espírito, que não temos, nem vemos, mais vida, para alem de.

E por muito que se pense que se está sempre a bater na mesma tecla, não tenhamos duvidas que a nossa comunicação social ajuda muito a centramos a vivencia diária em aspectos sensacionalistas, que podem não determinar o que mais deveria ser o objecto de focagem, no nosso presente e no futuro.

E agora, como é o que está a dar, a centralidade da maioria dos nossos jornais, dos nossos telejornais, das nossas rádios, é o OE 2012, e na trapalhada toda que por lá anda, e: não há mais vida para além do deficit, nem da austeridade.

E depois criamos em nosso torno, cada dia, por influências longínquas ou mais próximas, algo que não nos deixe ver que, de facto: Há mais vida para além de…

Assim sendo, vamos todos não conseguindo ter horizontes mais alargados, e nas nossas televisões conseguimos só ver muito de bom que ainda fazemos, que ainda nossos concidadãos fazem cá dentro e lá fora, se tivermos “força” para ter a televisão sem som na 1ª hora do telejornal, e na ultima ligarmos o som, e vemos que : Há mais vida para além de…OE 2011, deficit, austeridade, tragédia, desgraça, infortúnio…

E o mesmo, se conseguirmos não estar focados na maioria das primeiras paginas, da grande maioria dos jornais que vemos, na grande maioria das nossas bancas.

Mas se assim continuarmos, sem dúvida que não temos mais vida para além da penúria efectiva que vai ser o ano 2012, e “depois” os seguintes. E claro que vai ser tudo muito difícil, e claro que a grande maioria, vamos ter que ainda mais apertar o cinto, até sem mais o conseguirmos fazer. E vamos nos ver gregos. Não vamos conseguir tentar igualar os irlandeses. E vamos focando-nos no nosso fado, na nossa saudade, na nossa vitimização, que é que dá notícias, o que abre telejornais e o que nos desgraça mais do que já estamos.

Ainda: Há mais vida para além de…se quisermos assumir que ter tudo do bom e do melhor não é possível, que querermos estar com “ter” sempre mais do que o nosso vizinho, acabou. Que seguimo-nos pelas orientações trágicas de algumas notícias e de quem as faz, não tem futuro.

Mas, entre o mau momento a que chegámos e o futuro: Há mais vida para além de…do deficit, da austeridade, da tragédia, dos telejornais deprimentes, de telenovelas que nada nos ensinam, de programas sem conteúdo, de tragédias complicadas, que nos ofuscam a nossa vida, já não fácil.

Há mais vida para além de, se quisermos apostar em avançar, talvez fazendo o inverso, hoje, do que foi feito nos últimos 35 anos, ou seja, fazendo mais, poupado mais, investindo mais, assumindo culpas e não as atirando só para os outros, sabendo que temos direitos mas também temos deveres, sabendo que temos que ser educados, que não é unicamente ser instruídos – mas também, sendo muito instruídos - , sabendo que a vida faz-se de um conjunto de situações, boas, menos boas e más, e que todos teremos que ajudar, e não só os outros. E haverá mais vida para além de….., mas todos temos que ajudar, com deveres e também com direitos, e com menos conversa!


Augusto Küttner de Magalhães

Outubro de 2011

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Uma raiva a nascer-me nos dentes?
Nicolau Santos. Expresso, ediçao de 15 de Outubro 2011.
Sr. primeiro-ministro, depois das medidas que anunciou sinto uma força a crescer-me nos dedos e uma raiva a nascer-me nos dentes, como diria o Sérgio Godinho. V.Exa. dirá que está a fazer o que é preciso. Eu direi que V.Exa. faz o que disse que nao faria, faz mais do que deveria e faz sempre contra os mesmos. V.Exa. disse que era um disparate a ideia de cativar o subsídio de Natal. Quando o fez por metade disse que iria vigorar apenas em 2011. Agora cativa a 100% os subsídios de férias e de Natal, como o fará até 2013. Lançou o imposto de solidariedade. Nada disto está no acordo com a troika. A lista de malfeitorias contra os trabalhadores por conta de outrem é extensa, mas V.Exa. diz que as medidas sao suas, mas o défice nao. É verdade que o défice nao é seu, embora já leve quatro meses de manifesta dificuldade em o controlar. Mas as medidas sao suas e do seu ministro das Finanças, um holograma do sr. Otmar Issing, que o incita a lançar uma terrível puniçao sobre este povo ignaro e gastador, obrigando-o a sorver até a última gota a cicuta que o há de conduzir a redençao.
Nao há alternativa? Há sempre alternativa mesmo com uma pistola encostada a cabeça. E o que eu esperava do meu primeiro-ministro é que ele estivesse, de forma incondicional, ao lado do povo que o elegeu e nao dos credores que nos querem extrair até a última gota de sangue. O que eu esperava do meu primeiro-ministro é que ele estivesse a lutar ferozmente nas instâncias internacionais para minimizar os sacrifícios que teremos inevitavelmente de suportar. O que eu esperava do meu primeiro-ministro é que ele explicasse aos Césares que no conforto dos seus gabinetes decretam o sacrifício de povos centenários que Portugal cumprirá integralmente os seus compromissos ? mas que precisa de mais tempo, melhores condiçoes e mais algum dinheiro.
Mas V.Exa. e o seu ministro das Finanças comportam-se como diligentes diretores-gerais da troika; nao tem a menor noçao de como estao a destruir a delicada teia de relaçoes que sustenta a nossa coesao social; nao se preocupam com a emigraçao de milhares de quadros e estudantes altamente qualificados; e acreditam cegamente que a receita que tao mal está a provar na Grécia terá excelentes resultados por aqui. Nao terá. Milhares de pessoas serao lançadas no desemprego e no desespero, o consumo recuará aos anos 70, o rendimento cairá 40%, o investimento vai evaporar-se e dentro de dois anos dir-nos-ao que nao atingimos os resultados porque nao aplicámos a receita na íntegra.
Senhor primeiro-ministro, talvez ainda possa arrepiar caminho. Até lá, sinto uma força a crescer-me nos dedos e uma raiva a nascer-me nos dentes.

Primavera Árabe ou Primavera Islamista ?



Primavera Árabe ou Primavera Islamista? (Parte I – o equívoco das grelhas de leitura ocidentais)



por José Pedro Teixeira Fernandes



1. As revoltas ou revoluções que as populações de diversos países muçulmanos, da margem Sul do Mediterrâneo, levaram a cabo desde o início de 2011 têm sido entusiasticamente vistas, por grande parte da imprensa europeia e ocidental, como uma “Primavera Árabe”. A expressão tem uma boa ressonância para o público europeu, evocando diversas imagens históricas e acontecimentos quase míticos do seu passado. O apelo desta forma de designar os acontecimentos, está, também, numa certa nostalgia, na recordação de tempos heróicos e de bravura. Nesse passado, cada vez mais distante para os europeus, estes ainda se revoltavam contra a tirania e os seus regimes autoritários, em nome de valores mais grandiosos do que os da lógica hedonista-materialista em que vivem, ou do “valor” da competitividade que os seus governos lhe dizem ser o único caminho possível. A expressão “Primavera Árabe” é, por isso, uma evocação sublime e tocante de outras "primaveras" europeias. Desde logo, a “Primavera de Praga”, ocorrida na ex-Checoslováquia, no ano 1968, numa revolta contra a opressão e autoritarismo do regime comunista. Esta foi celebrizada na literatura pela obra do escritor checo, Milan Kundera, “A Insustentável Leveza do Ser”, mais tarde adaptada também ao cinema por Philip Kaufman. Foi precursora, em duas décadas, da revolta dos países da Europa Central e de Leste, que levaram à queda do muro de Berlim (1989) e à dissolução do Império Soviético (1991). Todavia, a designação “Primavera de Praga”, um acontecimento da segunda metade século passado, já foi, ela própria, um remake de uma outra Primavera, esta ocorrida no século XIX, a que os historiadores chamaram a “Primavera dos povos” de 1848. Nessa época, desencadeou-se um conjunto de revoltas e revoluções, baseadas num misto de revindicações liberais, democráticas e nacionalistas, ocorridas em grande parte da Europa contra as monarquias tradicionais e os Estados multinacionais governados por dinastias como os Habsburgos do Império Austríaco (mais tarde Austro-Húngaro).


2. Com este quadro mental bem enraizado, o europeu e ocidental interpreta, ainda que o possa fazer de forma inconsciente, a evolução histórica dos outros povos do mundo como decorrendo em direcção a uma finalidade, que é similar à sua própria evolução histórica. Assim, os povos não europeus e não ocidentais – neste caso os árabes –, estarão também destinados, mais tarde ou mais cedo, a ser como nós: a querer a democracia (pluralista e secular), a liberdade (política, de opinião, religiosa, etc.), os direitos humanos (tal como estão inscritos na Declaração Universal das Nações Unidas de 1948). Esta visão teleológica da história, misturada com o wishful thinking de que o rumo dos acontecimentos será no sentido da “boa” evolução da humanidade (pelo menos assim julgam os europeus), levou a imaginar mais uma “primavera”, agora replicada na margem Sul do Mediterrâneo. A questão é saber se este não é um dos mais comuns e enganadores equívocos de leitura dos acontecimentos internacionais, que, em vez de clarificar, não contribuirá, sobretudo, para obscurecer a compreensão de uma realidade que nos é essencialmente estranha. (Fim da Parte I).

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Indignados chegaram a Wall Street

Várias pessoas têm tentado perceber o que estará por detrás dos movimentos dos Indignados, que têm vindo a manifestar-se, ao que parecia só “contra tudo e em favor de nada”. Muitos pensámos que estes indignados, maioritariamente jovens que protestavam em Atenas, Londres, Madrid, Barcelona, Porto, o faziam “por fazer”. Vestindo-se desleixadamente, não tomavam banho, ficavam “para ali”, cheiravam mal, e “para ali ficavam”.

Agora, começaram também a existir nos EUA, e começamos a entender que têm mais que motivos para assim se comportarem. Espera-se que consigam ajudar a encontrar soluções, para tudo mudar, dado que “isto assim, não pode continuar”.

Convém não querer esquecer que o Norte de África também entrou em contestação. Mas, não tenhamos dúvidas que a Ocidente não existem, nem se vislumbram lideres preparados para minimamente resolver a actual Crise. São todos – pena nossa – muito maus, fazem mais do mesmo, ou seja o que outros bons, fizeram noutros tempos, com outra dignidade. Hoje, nada disto está a acontecer. Quem não sabe, nem tem carisma, não consegue! Evidentemente.

Hoje já não temos quaisquer dúvidas que os bancos foram aproveitando as duas últimas décadas de desregulação total para muitíssimo crescer, para pagar exorbitâncias aos que achavam saberem governá-los – aos bancos...- , e foram ganhando, ganhando, ganhando. Hoje, secaram tudo em seu redor e estão uns quantos muito ricos, não os bancos – instituições – mas os que com eles lucraram. Claro que se trata de uma percentagem mínima de potentes a Ocidente, que através dessa ganância desregulada, desregulamentada, empobreceram a maioria das populações Ocidentais, e enriqueceram-se!

Mas, mais grave, os que hoje estão tão bem instalados nesta abundância, nem sonham, em baixar um pouco. A bem!

E em simultâneo uns quantos bem falantes economistas, políticos e intelectuais “do momento”, vivem também nesse “isolamento soberbo superior” , dando, ainda mais, conselhos aos outros, a nós, aos diminuídos monetária e pelos vistos mentalmente. Como se só agora aparecessem em cena, como já não andassem pelo Ocidente, há mais de duas décadas, a pegar soluções milagrosas e muito intelectuais..

Os jovens estão por todo o a lado a manifestar-se, e têm razão: estudaram, esforçaram-se, quiseram fazer tudo para a bem terem um futuro e já nem “no hoje, estão bem”! Os muito, muito maus serão 10% os restantes 90% são de primeira água. Logo terão razão, 90%!

E os pais – a grande maioria - já não sente segurança futura – hoje - , e na hora em que os filhos estão, estariam, preparados para se fazerem à vida, não têm como, por onde, aonde, com quê.

O desemprego de todos estes jovens, por todo o Ocidente, pela África do Norte, e de todos os que seguirão, a total falta de perspectivas, não de enriquecerem mas de ganharam para estar vivos, e viverem, trabalhando, foi-se. Assim, a única alternativa é indignarem-se, é mostrarem o seu desanimo, e se os que ainda são poderosos e ricos, bem como os ditos intelectuais que tudo sabem, que mais não fazem do que se manter as si e aos seus numa “mesma redoma”, não abdicarem - a bem - de boa parte do que têm, se não olharem – com olhos de quer bem ver – para baixo, sem arrogância, com humildade, e não querendo dar gorjetas, não tendo de fazer de bonzinhos, mas antes investirem e muito na criação de empregos, de riqueza, isto vai rebentar e muito rapidamente. Para todos, até para esses ricos/poderosos!

Estamos no fim da linha, e os Indignados, estão a sofrer na pele a incompetência, a arrogância, a “sem vergonha” de uns quantos que quiseram ser potentemente os Senhores do Ocidente. E todos mais velhos vamos, já estamos também a sofrer! Se nada mudar, se se começar verdadeiramente a passar fome, se os pais não tiverem dinheiro para se alimentar-se e aos seus filhos, tudo vai acabar muito mal. E não é no futuro - lá distante - é já amanha!


Augusto Küttner de Magalhães

Outubro de 2011

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

As noites do Porto, com vida, mas com selvajaria


As noites do Porto, com vida, mas com selvajaria



Ainda bem que entre as 5ªs feiras à noite e os domingo de manhã, o Centro do Porto, passou a ter vida, passou a ter juventude a"estar" a divertir-se, a falar, a ouvir musica...mas também a beber um pouco excessivamente, e também a deitar tudo o que seja lixo, copos, garrafas, papeis, para tudo o que seja sitio.....e urinar, onde bem lhes apeteça, tal como fazem os cães e cadelas, quando os donos os levam a passear, para despejar/aliviar no exterior as suas necessidades fisiológicas.

Tudo tem um limite, e a decência ou a falta da mesma, é algo que já ultrapassou o admissível.

Claro que com carinho e algum amor, os jovens devem permitir-se fazer amor, não só mas também sexo, antes - também - do casamento, claro que nas mesmas condições os jovens devem poder ver-se nus, ou bem vestidos, Claro que a liberdade consentida e assumida deve em tudo ser uma constante. Mas haja respeito, haja dignidade, haja bom senso, haja educação - não pesa, não ocupa espaço, não custa dinheiro...

Não será de impor regras que lembrariam o antes do 25 de Abril, mas também os excessos, não ficam bem, e de repente dá para pensar se todos estes jovens saem para se divertir, para estarem juntos, para falar, para curtir, ou antes e só, para se embebedarem, para fazerem sexo e no dia seguinte nem sequer se lembrarem que fizeram, se tiveram algum prazer e com quem.

Se se embebedaram tanto - ou/e usaram mais substâncias - que antes de serem transportados para casa tiveram que ir recuperar a uma qualquer urgência de um hospital próximo, se urinaram - eles e elas!! - em tudo que é sitio, se sujaram tudo, e se terão incomodado tanta gente, que o divertimento passou a selvajaria pura e dura.

Os jovens têm que fazer tudo o que se coaduna com as suas idades, devem aproveitar serem jovens, dado que o somos uma só vez na vida, mas não devem baixar o nível de tal forma que passam a ter comportamentos que nem os cães têm, dado que - estes - se urinam na via publica é por não terem locais apropriados onde o fazer, se ladram é por não saberem de outra forma se expressar. Se fazem sexo, quando com cio, é para a espécie, não acabar....nós não é só para fazer meninos, logo, deve ser sentido.....

E as Pessoas - jovens, menos jovens ou velhos, mas aqui são jovens, os velhos mexem-se menos, face à velhice!!! - se não conseguem despejar uma garrafa ou um copo vazio nos locais indicados ,devem ter que aprender que há, por algum motivo, uma diferença entre cães, cadelas, homens e mulheres.

E a partir de um certo limite, tem que haver a intervenção da autoridade, para isso existe, ou então pura e simplesmente acaba-se com tudo o que seja policias, e pronto, meia bola em força, que se safe o mais forte...e está tudo resolvido..força..em frente....

Temos que saber viver a vida com dignidade, temos que nos saber respeitar, para os outros respeitar, temos que viver a vida com gosto e até com prazeres, mas nunca esquecendo que somos seres humanos, e que por isso devemos ser mais e melhores que todos os outros seres vivos.

Esta é ou deve ser, a nossa diferença, e aí compete a todos saber melhor estar: pais, educadores, professores, autarcas - que podem acumular com os anteriores - , médicos, policias...todos devem fazer parte da solução. Ou não e entremos na deterioração total de Pessoas, passando a animais, abaixo de cães...


Augusto Küttner de Magalhães

Outubro de 2011


--
A. Küttner

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Como a União Europeia se tornou refém do seu próprio modelo de integração



Como a União Europeia se tornou refém do seu próprio modelo de integração




por José Pedro Teixeira Fernandes


1. A actual crise financeira e económica iniciou-se em 2007/2008 no sector financeiro e imobiliário dos EUA, em mercados a funcionar de forma livre e competitiva e (teoricamente) eficiente. Resulta inquestionável, para qualquer observador imparcial, que o falhanço foi dos próprios mercados. Todavia, paradoxalmente, o que teve origem num falhanço dos mercados e numa competição/competitividade destrutiva (notoriamente não ética) nos sectores imobiliário e financeiro, foi transformado, rapidamente, um pouco por toda a Europa, num problema de excesso de Estado e de falta de competitividade. Por outras palavras, uma crise que, na sua origem, teve os excessos destrutivos do capitalismo, está a ser aproveitada pelos defensores da ideologia (neo)liberal para reverter a questão a seu favor. Afinal, o que houve, dizem-nos, foi... falta de mercado e de capitalismo competitivo!? Como foi possível convencer uma parte significativa, se não mesmo maioritária, da opinião pública europeia e portuguesa desta “inverdade” e de que a via para a saída da crise é (ainda) mais capitalismo (competitividade, privatizações, flexibilização da mão-de-obra etc.)?


2. No cerne do problema está o modelo de integração das Comunidades/União Europeia e a maneira como a Europa unificada foi construída. Face à impossibilidade de instituir, à partida, uma unificação política de tipo federal, foi usando a integração económica de forma instrumental para atingir esse objectivo,: primeiro união a aduaneira (1968), depois o mercado único (1993), mais recentemente a união económica e monetária (2002). Essa integração baseou-se num modelo económico de tipo (neo)liberal – inequívoco nos avanços da integração a partir dos anos 80, com o mercado único e a moeda única. As implicações deste modelo de integração foram que a União Europeia o inscreveu nas suas instituições e políticas, ficando refém dos seus dogmas: desregulação dos mercados nacionais, total liberalização dos movimentos de capitais, privatizações, flexibilização do mercado de trabalho, moeda única, etc. Consequência: a integração europeia converteu-se no melhor seguro de vida que o capitalismo (neo)liberal alguma vez poderia imaginar em alturas de crise. Ao atacarem-se os seus dogmas, procurando outras formas de actuação governativa, é inevitável por em causa a União Europeia. Ora, por em causa a União Europeia é uma heresia para a maioria das elites políticas económicas que nos governam (não de forma desinteressada, sublinhe-se, pois tiram grandes vantagens deste modelo). Outra consequência: a simbiose efectuada nas últimas décadas entre “mais Europa” e “mais capitalismo (neo)liberal” globalizado, usado como cimento usado para a integração europeia, deixou a União e os Estados-Membros reféns deste modelo, que, tudo indica, está esgotado na sua capacidade de produzir bem-estar. A única possibilidade é a “fuga para frente”. Os que (ainda) acreditam nas virtudes de um capitalismo globalizado exacerbado e da ideologia da competição/competitividade perceberam bem isso. Habilmente repetem até à exaustão que Portugal deve ser um “bom aluno” e executar (acriticamente) o acordo com a chamada troika (BCE, Comissão e FMI). De facto, estão a ter uma oportunidade única de impor as suas ideias sem oposição de relevo.



3. Tudo isto seria apenas um caso curioso, se não se estive a tornar também trágico. Construir a Europa usando quase só a economia de mercado como cimento – e especialmente a moeda única para tornar inevitável uma união política –, está a mostrar-se um erro de enormes proporções. Esvaziou, em alturas de crise como a que vivemos, os Estados nacionais dos instrumentos monetários e cambiais clássicos. Não diminui a heterogeneidade entre a Europa do Norte a do Sul. Tornou as eleições democráticas praticamente inúteis do ponto de vista das grandes escolhas governativas, pois o caminho já está traçado. Infelizmente ainda pode acontecer pior. Ao previsível afundamento Grécia outros seguirão e Portugal está na primeira linha das vítimas do turbilhão que se aproxima cada vez mais.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Eu já vivi o vosso futuro.....

EU JÁ VIVI O VOSSO FUTURO !
>
> Declarações do escritor e dissidente soviético, Vladimir Bukovsky,
> sobre o Tratado de Lisboa
>
> "É surpreendente que, após ter enterrado um monstro, a URSS, se tenha
> construído outro semelhante: a União Europeia (UE).
> O que é, exactamente a União Europeia? Talvez fiquemos a sabê-lo
> examinando a sua versão soviética.
> A URSS era governada por quinze pessoas não eleitas que se cooptavam
> mutuamente e não tinham que responder perante ninguém. A UE é
> governada por duas dúzias de pessoas que se reúnem à porta fechada e,
> também não têm que responder perante ninguém, sendo politicamente
> impunes.
> Poderá dizer-se que a UE tem um Parlamento. A URSS também tinha uma
> espécie de Parlamento, o Soviete Supremo. Nós, (na URSS) aprovámos,
> sem discussão, as decisões do Politburo, como na prática acontece no
> Parlamento Europeu, em que o uso da palavra concedido a cada grupo
> está limitado, frequentemente, a um minuto por cada interveniente.
> Na UE há centenas de milhares de eurocratas com vencimentos muito
> elevados, com prémios e privilégios enormes e, com imunidade judicial
> vitalícia, sendo apenas transferidos de um posto para outro, façam bem
> ou façam mal. Não é a URSS escarrada?
> A URSS foi criada sob coacção, muitas vezes pela via da ocupação
> militar. No caso da Europa está a criar-se uma UE, não sob a força das
> armas, mas pelo constrangimento e pelo terror económicos.
> Para poder continuar a existir, a URSS expandiu-se de forma crescente.
> Desde que deixou de crescer, começou a desabar. Suspeito que venha a
> acontecer o mesmo com a UE.
>
> Proclamou-se que o objectivo da URSS era criar uma nova entidade
> histórica: o Povo Soviético. Era necessário esquecer as
> nacionalidades, as tradições e os costumes. O mesmo acontece com a UE
> parece. A UE não quer que sejais ingleses ou franceses, pretende
> dar-vos uma nova identidade: ser «europeus», reprimindo os vosso
> sentimentos nacionais e, forçar-vos a viver numa comunidade
> multinacional. Setenta e três anos deste sistema na URSS acabaram em
> mais conflitos étnicos, como não aconteceu em nenhuma outra parte do
> mundo.
> Um dos objectivos «grandiosos» da URSS era destruir os estados-nação.
> É exactamente isso que vemos na Europa, hoje. Bruxelas tem a intenção
> de fagocitar os estados-nação para que deixem de existir.
> O sistema soviético era corrupto de alto a baixo. Acontece a mesma coisa na
> UE.
>
> Os procedimentos antidemocráticos que víamos na URSS florescem na UE.
> Os que se lhe opõem ou os denunciam são amordaçados ou punidos. Nada
> mudou. Na URSS tínhamos o «goulag». Creio que ele também existe na UE.
> Um goulag intelectual, designado por «politicamente correcto».
> Experimentai dizer o que pensais sobre questões como a raça e a
> sexualidade. Se as vossas opiniões não forem «boas», «politicamente
> correctas», sereis ostracizados. É o começo do «goulag». É o princípio
> da perda da vossa liberdade.
>
> Na URSS pensava-se que só um estado federal evitaria a guerra.
> Dizem-nos exactamente a mesma coisa na UE.
>
> Em resumo, é a mesma ideologia em ambos os sistemas.
>
> A UE é o velho modelo soviético vestido à moda ocidental.
>
> Mas, como a URSS, a UE traz consigo os germes da sua própria
> destruição. Desgraçadamente, quando ela desabar, porque irá desabar,
> deixará atrás de si um imenso descalabro e enormes problemas
> económicos e étnicos.
>
> O antigo sistema soviético era irreformável. Do mesmo modo, a UE
> também o é. (...)
> Eu já vivi o vosso «futuro»..."
>
> http://www.youtube.com/watch?v=Akwhyd9ozy0
>
> Será que ele tem razão?
>
>

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

A opinião de um Português inteligente

A opinião de um português inteligente

O empobrecimento das famílias entristece-o. A desgovernação do país tira-o do sério. Manuel Sobrinho Simões, médico, investigador e professor universitário, diz que Portugal continua a ser vítima do conflito de interesses que grassa entre as conveniências dos partidos e dos políticos e as necessidades do país e dos portugueses. Uma análise interessada para ajudar a sair da crise e a permanecer no euro. Nem que tenhamos de fazer o pino.

_
Em três semanas tivemos quatro dias de descanso extra. Ele foi a tolerância de ponto para Lisboa, a greve geral, um feriado civil e na próxima quarta-feira teremos um religioso. Como é que avalia a nossa relação com o trabalho?

No nosso país, uma pessoa que trabalhe todos os dias e que tenha de assinar ponto é visto como um falhado. Quando me tornei professor catedrático até os meus amigos de Arouca ficaram decepcionados quando perceberam que a minha vida ia continuar a fazer-se das mesmas rotinas. E mais recentemente, no Hospital de São João (Porto), a maior parte dos professores da Faculdade de Medicina foram contra a fiscalização do horário de trabalho dos médicos através da leitura da impressão digital - o dedómetro - mas eu fui a favor. É humilhante? É. Sobretudo para quem tem funções de direcção. Mas tem de ser assim, porque infelizmente muitos de nós não cumprimos. Caricaturando a coisa, pode dizer-se que em Portugal só quem não sabe fazer mais nada é que trabalha, isto é, tem uma rotina, cumpre horários, produz e presta contas.
_Esses traços são distintivos só dos portugueses?
Não, este problema não é só nosso. A Europa conseguiu garantir boas condições de vida aos seus cidadãos à custa da exploração dos povos e dos países da Ásia, da América Latina e de África. Uma boa parte do Estado Providência assentou na exploração das matérias-primas e do trabalho daqueles países. Com o aparecimento de economias emergentes muito competitivas e a deslocalização das fábricas, a Europa começou a criar menos riqueza e as dificuldades em conseguir manter o chamado estado social começaram a aparecer. Não é por acaso que a França tem de mudar a idade da reforma. É um sintoma.

_Prenúncio do fim do Estado social?
Com o crescimento da Índia, da China e do Brasil, a Europa ressentiu-se e as pessoas começaram a perceber que vão ter de mudar de vida, que o tempo das mordomias já passou.

_Mas para nós, portugueses, esse tempo mal começou...
Pois é, mas para nós vai ser ainda pior. Os portugueses, além de europeus, são culturalmente mediterrânicos, o que não nos afasta muito dos gregos, dos italianos e dos espanhóis do Sul, com todas as influências que são ditadas pela geografia, pelo clima e pela religião. Sermos judaico-cristãos é muito diferente de sermos calvinistas e protestantes. Além disso nunca corremos o risco de morrer de frio e estamos na periferia, não tivemos guerras e ninguém nos chateou. Na verdade, somos muito individualistas e estamos mais próximos dos norte-africanos do que dos povos do Norte da Europa.
Somos um país mais mediterrânico do que atlântico, com todas as implicações que isso tem até na nossa produtividade.

_Então a diferença entre nós e o resto da Europa, sobretudo os nórdicos, não está nos genes?
Claro que não. A diferença entre nós e os nórdicos não está nos genes, é fruto da cultura e da educação, da geografia, do clima e da religião. Eles tinham frio, era-lhes difícil cultivar cereais e não tinham vinho. Para sobreviverem tiveram de estimular a inovação e a cooperação. Ao contrário de nós, que tínhamos um bom clima, uma agricultura fértil e peixe com fartura. E depois tivemos África, a seguir o Brasil e logo os emigrantes. Não precisámos de nos organizar e não precisámos de nos esforçar. Não era preciso. Não planeávamos, desenrascávamos. Continuamos assim, gostamos de resolver catástrofes.

_É sindicalizado?
Não.

_Fez greve?
Sim, eu e a maioria dos professores de Anatomia Patológica da Faculdade de Medicina. Fizemos greve e estamos furiosos mas assegurámos o serviço no hospital e demos aulas na Faculdade, onde também não  faltámos  por causa dos alunos. É uma questão de respeito.

_Estão furiosos com quê?
Com a desgovernação. Não é só com a desgovernação do actual governo, é com o desnorte dos últimos vinte e tal anos. O que nos está a acontecer não resulta apenas da desorientação dos últimos dois anos, já há muito que gastamos acima do que podíamos e devíamos. E o mais grave é que demos sinais errados às pessoas. Agora, vamos ter de evoluir de novo para uma sociedade com capacidade de produção real, com agricultura e pesca.

_Mas todos temos na memória os subsídios que foram concedidos aos agricultores para não produzirem.
Foi terrível. E para piorar as coisas, muitos ficaram deprimidíssimos e frequentemente alcoólicos. Destruíram as vinhas, a sua âncora, que lhes dava prestígio e dignidade pessoal nas suas comunidades, e começaram a passar os dias na taberna. Isto aconteceu em todo o Minho. E no Alentejo também.

_Podemos dizer que o nosso super-Estado tem descurado as necessidades reais dos cidadãos e da sociedade?
Desde o tempo do Dr. Salazar que o Estado faz questão de proteger os seus e nós temos aprovado esse amparo. Mas os nossos cidadãos não têm grandes conhecimentos e perguntam pouco, até temos aquela afirmação extraordinária que é «se não sabes porque perguntas?». Ora quando temos dúvidas é que devemos perguntar. Por estas e por outras, nas últimas décadas, dominado por ciclos eleitorais curtos, o Estado passou a viver acima das suas possibilidades e a substituir-se à realidade. E, de repente, a realidade caiu em cima do povo.

_Os portugueses têm razões para se sentirem enganados ou não quiseram ver a realidade?
As duas são verdade. Podemos ofuscar o real durante algum tempo, mas não para sempre. As imagens da Grécia, com reformas aos 55 anos ou até mais cedo para as chamadas profissões de desgaste rápido, permitiram-nos perceber que se eles tinham entrado em colapso também nós corríamos o risco de vir a acontecer-nos o mesmo. Até essa altura, creio que muitas pessoas acreditavam, lá no seu íntimo, que nem os países, nem a segurança social, nem o Serviço Nacional de Saúde (SNS), nem as câmaras municipais podiam entrar em bancarrota. Agora já perceberam que isto pode mesmo entrar em ruptura. Para já reduziram até dez por cento o ordenado dos funcionários públicos, mas no ano que vem pode vir a ser necessário chegar aos vinte por cento. E que é que adianta andar a papaguear que é inconstitucional e que mexe com os direitos adquiridos? Se não há dinheiro o que é que se faz? Esta questão é que tem de ser respondida.

_Não há dinheiro para o Estado social mas tem havido para obras e infra-estruturas. O que pensa disto?
Eu não sei o suficiente para perceber quando é que é necessário um novo aeroporto em Lisboa ou em Beja. Mas como sou um prático, penso que se não é preciso no imediato e temos falta de dinheiro, então temos de investir na criação de riqueza e de emprego e não em obras que têm um retorno mais longínquo.

_Não quer um TGV para o Porto?
Eu não. O que quero é que a TAP faça voos mais baratos. Um bilhete Porto-Lisboa-Porto custa 283 euros, o mesmo que gasto para ir a Oslo. O comboio que temos, o Alfa e o Intercidades, já é muito cómodo mas para ir a Lisboa não é prático, ou nos levantamos de madrugada ou perdemos metade de um dia. O que também necessitamos é de nos ligar à Galiza com mais eficiência porque o aeroporto do Porto tem condições para ser o grande aeroporto do Noroeste peninsular.  

_Se fosse governante imagina-se a discutir tantas vezes os mesmos assuntos?
Não. Falta-me experiência política, não tenho treino de negociação. Mas assusta-me saber que há tantas dúvidas sobre investimentos monstruosos. Não consigo perceber porque se continua a discutir a ligação de Lisboa a Madrid por TGV quando aquilo não tem hipótese nenhuma de ser sustentável.

_Os impactes da crise económico-financeira foram durante muito tempo menosprezados pelos governantes. O que pensa disso?
O que senti e sinto é que se não fosse este governo, se fosse outro, teria sido exactamente a mesma coisa. Temos uma crise económico-financeira, mas também temos uma crise de líderes - os políticos portugueses gritam muito contra o estado das coisas e, depois, para ganharem eleições adoptam um discurso demasiado optimista. A primeira coisa que todos os que venceram eleições nos últimos anos fizeram foi, uma vez eleitos, dizer que isto estava uma tragédia. E toda a gente sabe que a maquilhagem do défice foi feita à custa de receitas extraordinárias quer por governos do PS quer do PSD.

_Somos ingovernáveis?
Os nossos líderes e os seus partidos vivem mais para ganhar eleições do que para servir o país e os interesses da nação. Na administração pública até os directores-gerais cessam funções quando há mudança de governo. Ora é óbvio que, assim, qualquer um quer que o seu partido continue no governo, se não corre o risco de ir para a  rua. O nosso individualismo militante e a fragilidade organizativa contribuem também para a ingovernabilidade.

_O Estado é refém da administração pública?
O Estado deixou desenvolver, no seu seio, várias corporações, cada uma mais egoísta do que a outra - juízes, médicos, professores, militares, etc. Além disto, partidarizou a administração pública e passou a fazer concessões despudoradas aos chamados novos poderes, aos construtores, à banca, à comunicação social. Isto já não é culpa do Dr. Salazar.

_O FMI vem aí?
Todos os tipos em quem eu confio dizem que sim, por isso acredito que sim, que está no vir. Ainda há dias estive numa reunião com João Cravinho, António Barreto e Rui Rio e esse foi um dos temas da conversa. A conclusão foi de que a vinda do FMI será provavelmente inevitável.

_Sente o orgulho beliscado por ter de ser o FMI a pôr ordem na nossa casa?
Não, de todo. Mas não sei o suficiente de economia para perceber o que é que a intervenção do FMI vai implicar. Vão mudar o sistema das reformas, as pensões, os impostos? Nós já temos uma carga fiscal enorme, tenho assistido com muita tristeza ao empobrecimento da classe média portuguesa. Se a intervenção do FMI empobrecer ainda mais a nossa classe média e as famílias mais desfavorecidos ficarei muito triste.

_Pensa que esta crise vai ser pior do que as outras?
Penso, infelizmente sim. E quando ouço os economistas falarem ainda fico espantado. Como é que eles não se aperceberam de que aumentando progressivamente o défice tínhamos uma receita para o desastre? Sei que vamos ter de mudar de vida. Se tivermos de o fazer num contexto de protecção da Europa e do euro prefiro a solução FMI a ter de saltar do euro e ir para soluções do domínio da magia, com a desvalorização da moeda, altivos e sós.

_Afirmou várias vezes que o que de melhor nos aconteceu foi a entrada no euro. Foi uma oportunidade perdida?
Foi uma oportunidade muito mal aproveitada, mas teria sido muito pior para o país e para os portugueses se não tivéssemos entrado. Desbaratámos as vantagens da entrada no euro sem que os cidadãos tenham sido alertados para as fragilidades que vieram com a moeda única. Limitámo-nos a ser os recipientes líquidos de uma quantidade enorme de dinheiro em vez de aproveitar esses fundos para desenvolver e inovar. Não é por acaso que temos automóveis de luxo, iates e terceiras casas numa quantidade que é obscena relativamente ao nível de vida da população.
Ainda assim, defendo que, se for preciso, devemos fazer o pino para nos mantermos no euro. Prefiro ficar sob o domínio da Europa do que ficar apenas entregue aos jogos políticos portugueses. Estamos na pontinha da Europa, se isso acontecesse, connosco sozinhos e em roda livre, seria mortal.

_Acha que os países europeus mais fortes, nomeadamente a Alemanha, vão continuar a tolerar os nossos esquemas?
Não. Vão ser implacáveis porque é a Europa e o projecto União Europeia que estão em causa. Este ano, só a Índia vai pôr no mercado mais engenheiros do que todos os 27 países da Europa. O que é que a França ou a Alemanha representam na competição com a Índia? As pessoas não têm consciência da nossa dimensão. Eu dou aulas na China, em Chengchow, uma cidade que ninguém conhece a sul do rio Amarelo, na província de Henan, onde fica o templo de Shaolin. Só esta província tem cem milhões de habitantes e a cidade de Chengchow tem sete milhões. É outra escala. O campus universitário de Chengchow, onde estão sempre uns guardas de metralhadora em riste, é simplesmente enorme. Os hospitais não são apenas maiores, são melhores do que o São João, aqui no Porto, ou o Santa Maria, em Lisboa. Não estamos a falar de Xangai, de Hong Kong ou de Pequim, essas são cidades extraordinárias. Estamos a falar de uma cidade de que não se ouve falar mas que tem uma universidade que é uma coisa de um mundo que já não é o nosso. Isto para dizer que a Europa ou se enxerga ou desaparece.

_O estado a que isto chegou era evitável?
Fomos sempre muito bons a avaliar meios, mas nunca quisemos avaliar os resultados. Nos hospitais vejo muita gente preocupada em discutir o número dos médicos, enfermeiros, consultas e exames realizados. E não se discute o mais importante que é a frequência das complicações e da mortalidade dos doentes, os reinternamentos, a sobrevida dos doentes com cancro aos 5 anos, etc. O que precisamos de conhecer é a quantidade e a qualidade de vida dos doentes que são tratados em cada um dos nossos hospitais, mais do que avaliar os meios. O mesmo sobre os blindados da PSP. Não quero saber se comprámos dois ou seis. O que precisamos de saber é como e quanto é que a eficiência da PSP aumenta com os ditos blindados. Nós fugimos aos «finalmente». Não temos cultura de avaliação.

_Entretanto as universidades formaram muitos jovens. Eles não têm lugar em Portugal?
Pois não. Nesta altura não há espaço para os jovens. Os muito bons vão logo para fora e os outros também vão, ou como bolseiros ou já como profissionais. E eu acho que é uma boa solução para o país - por exemplo, entre enfermeiros, médicos e médicos dentistas temos uma leva de emigrantes diferenciados em Inglaterra de que nos devemos orgulhar.

_Precisamos dos povos do Sul ou temos de rumar para sul?
África oferece imensas oportunidades mas ainda tem problemas com a segurança, a política, a organização. Há muitas oportunidades de negócio no retalho, na construção, nas energias, até na saúde, um sector que não tem um retorno tão imediato mas que também é rendível e socialmente muito importante. A América do Sul também é um destino a equacionar, embora os estados do Sul do Brasil sejam muito desenvolvidos e também tenham jovens com muito boa formação universitária.

_Se fosse governante o que é que mudava?
Melhorava a educação, mas fazia-o com seriedade. Temos os miúdos na escola, e bem, mas não acautelámos a qualidade do ensino. Vejam-se os resultados dos estudos PISA, onde os nossos alunos, comparados com outros da mesma idade e de outros países da OCDE, revelam competências muito baixas nos conhecimentos da língua materna, da matemática e das ciências, três instrumentos básicos. Isto é um problema gravíssimo.

_Defraudámos as expectativas das famílias?
Completamente. Há muitas famílias cujos pais fizeram sacrifícios enormes para custear os estudos dos filhos, inscritos em universidades privadas e em cursos que não têm saída. As pessoas não entendem. Disseram-lhes que o diploma era importante. Por outro lado, não faz sentido que tenhamos 28 cursos de arquitectura em Portugal. E outros tantos de tecnologias da saúde. Aqui no Porto, em instituições privadas, os enfermeiros estão a ganhar cerca de quatro euros por hora.

_Já os seus alunos têm boas perspectivas, pois faltam médicos.
Os alunos de medicina também estão assustados com o futuro. Já não sabem se vão poder fazer a especialidade que gostariam, ou se serão forçados a adaptar-se às vagas que existirem e às condições de trabalho e de remuneração que lhes forem impostas.

_O SNS está ameaçado?
Em termos de sustentabilidade, está. Mas o último relatório do Tribunal de Contas vem dizer que as soluções de gestão que foram introduzidas nos hospitais-empresa, muitas vezes à revelia dos profissionais, não funcionaram. A saúde é um bem imaterial, não é um bem que se venda a retalho. Como a educação. Os serviços assistenciais também vivem da manutenção do respeito pelos pares, e as hierarquias não são apenas funcionais, são também de competência.

_Ainda defende a regionalização?
Sim.

_E não teme que sirva sobretudo para criar mais uma casta de burocratas?
Defendo-a mas confesso que tenho muito medo, precisamente por causa disso.

_E defende a criação de mais estruturas, para além das que existem?
Não, isso não. Para já defendo que se avance com as regiões que temos e à experiência, com líderes e profissionais que já deram provas e sem cargos de confiança política. As regiões precisam de autonomia e não podem ser extensões de outros poderes. Sou a favor da regionalização dos serviços de saúde e de ensino, incluindo as universidades.

_Com a crise corremos o risco de nos tornar um país mais desigual?
Em relação à Europa já somos dos piores e agora a desigualdade vai agravar-se. Quer o número de pobres, quer a diferença entre eles e os muito ricos, não cessam de aumentar. Vamos ter de criar alguns mecanismos de suporte para ajudar as pessoas que estão aflitas e eu tendo a valorizar os mecanismos da sociedade civil, por exemplo o papel das misericórdias. A filantropia social está desaproveitada - há muito boa gente com competências, vontade e redes sociais a funcionarem bem. Não podemos deixar pessoas morrer à fome e ao frio e não podemos deixar de dar leite às crianças.

_Taxar mais a riqueza pode fazer parte da solução?
Taxar mais a riqueza não resolve nada, primeiro porque calculo que os poucos milhares de muito ricos que temos em Portugal não têm cá a massa e, se tiverem, não serão facilmente taxáveis. Mais impostos também não. Para aumentar a produtividade temos de ser mais competitivos e receio que, a curto prazo, com ou sem FMI, tenhamos de baixar ainda mais os salários. Uma coisa é certa: temos de pagar as nossas dívidas porque se não o fizermos ninguém nos empresta dinheiro.

_Contacta com muitos cientistas e investigadores estrangeiros. Como é que eles nos vêem?
Na ciência não há grandes diferenças entre nós e eles. Em algumas especialidades médicas também não. Por exemplo, os patologistas que conheço têm vidas muito parecidas com a minha, não há grandes diferenças sociais. Já um reumatologista ou um cirurgião português que tenha actividade privada ganha bastante mais do que um colega do centro da Europa.

_E na sociedade?
Na sociedade há bastantes diferenças. Nós não fomos eficientes em criar riqueza, nem conseguimos deixar de gastar mais do que produzimos. Há mais de trinta anos que vou com frequência à Noruega e lembro-me de eles serem relativamente pobres quando nós éramos razoavelmente ricos. Um médico norueguês vivia pior do que um médico português, um advogado também. Nunca conheci um casal norueguês da classe média que tivesse dois carros e muito menos uma empregada de limpeza. Eles agora vivem com algum conforto mas nunca gastaram mais do que aquilo que produzem. As receitas das reservas de petróleo e de gás estão aplicadas num Fundo, não estão a ser gastas e muito menos ao desbarato.

_Enquanto nós desperdiçamos o que pedimos emprestado...
Nós somos mal governados em parte por culpa própria, em parte pela escassez de líderes exemplares. Gosto muito dos países nórdicos, aprendi imenso lá, toda a minha família aprendeu. Na Noruega, na Suécia, na Finlândia, não corremos o risco de ser atropelados quando atravessamos a rua. Eles quando bebem não conduzem, vão para casa de táxi. E um ou outro que o faça é alvo de medidas sérias de repreensão económica e social e vai para a prisão. Nos países nórdicos, o exemplo conta e quem não é exemplar é punido socialmente.

_Os portugueses são condescendentes?
Pior, nós admiramos o sucesso do aldrabão. Em Portugal não há censura social para a esperteza saloia nem para a corrupção a que passámos a chamar informalidade. Pelo contrário, admiramos os esquemas, os expedientes. Vivemos deles.

_Mas depois queixamo-nos.
A nossa tragédia é que somos um povo pré-moderno. Não perguntamos, não responsabilizamos, não exigimos nem prestamos contas. Não temos a literacia nem a numeracia necessárias. Outro problema é a falta de transparência,  a opacidade. Olhe o que se passou com o BPP e com o BPN, histórias tão mal contadas.

_A evasão e a fraude fiscal são duas das grandes marcas nacionais. A corrupção é outro crime sem castigo.
Não metemos ninguém na cadeia, deixamos os problemas eternizarem-se sem punições, mas também não recompensamos ninguém. O Estado é burocrático, não nos deixa avançar, mas dá-nos segurança. A nossa tradição é empurrar os problemas com a barriga esperando que se resolvam por si. Quando as coisas dão para o torto somos injustos ou por excesso ou por defeito. Quem tem muito poder económico pode recorrer a  expedientes e a mecanismos dilatórios que são usados de maneira desproporcionada. Quem não tem esse poder é totalmente vulnerável. Somos demasiado tolerantes, somos condescendentes, no mau sentido, aderimos mais ao tipo que viola a lei do que ao polícia. Temos afecto pelo fulano que faz umas pequenas aldrabices, admiramos secretamente os grandes aldrabões, não punimos os prevaricadores. Na verdade somos contra a autoridade.

_Tem 63 anos e é funcionário público. Já meteu os papéis para a reforma?
Não, não sei fazer mais nada além de trabalhar. E fui sempre funcionário público, não me imagino a trabalhar numa actividade privada. O meu pavor é pensar que um dia talvez não possa trabalhar. Às vezes sinto-me um pouco desconfortável por ter de responder a tantas solicitações burocráticas no dia-a-dia, mas pior será quando deixar de trabalhar.

_Continua a ser leitor compulsivo de jornais?
Fico nervoso se não tiver jornais. Leio muitos, sobretudo semanários e estrangeiros. Infelizmente gasto cada vez mais horas diárias a ler revistas científicas. Não tenho tempo para ler literatura de novo isto é, quase só releio. A falta de tempo é o meu maior problema.

_O que é que o faz perder a paciência?
A irresponsabilidade e a incompetência, não sei o que é pior. Sou um exaltado mas já não tenho idade para fazer fitas. Disfarço melhor, mas se sou apanhado de surpresa é tramado.

_E o que é que o faz dar uma boa gargalhada?
Sorrio mais do que rio e acho uma graça especial aos meus netos.
BI
Médico, investigador, professor, contador de histórias. O Norte e o Porto são o seu território, o Hospital de São João e a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto a sua casa, o Ipatimup (Instituto de Patologia e Imunologia Molecular) a sua ilha. Uma ilha que está ligada aos cinco continentes através da ciência e do ensino. Manuel Sobrinho Simões, 63 anos, prémio Pessoa em 2002, recebeu muitas outras distinções nacionais e internacionais e é um dos mais consagrados peritos do mundo em oncologia, sobretudo em cancro da tiróide. Sobrinho Simões é um português ao serviço da humanidade.